RUAS CARDÍACAS

Nessa hora quando todos dormem Atravessa-me um mar de peixes tristes Uma ternura congelada No fundo das águas do tempo Pedra talhada pelas ondas de sentimento Quebrando nos muros do peito Tudo resiste O coração as artérias o entupimento O esgoto O gosto O rosto e sua superfície Cada vez mais áspera Carregando a vida nas rugas Nas rusgas que crescem em silêncio A noite é um mar inconsolável Que quebra (n)as paredes do peito E não há jeito De não naufragar em si mesmo Tempo instável O coração é uma embarcação Sem bússola Sem ursa maior Sem nó Um sol menor da sinfonia Que rege a poesia da escuridão Tudo é vão e tanto Tantos vão(s) (e não voltam) Vazias as ruas cardíacas nessa hora A chuva dos olhos molha Suas árticas calçadas ( onde pede abrigo morrendo de frio a memória). . (RaiBlue) . Pintura da japonesa: Miho Hirano