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Showing posts from June, 2016

RUAS CARDÍACAS

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Nessa hora quando todos dormem Atravessa-me um mar de peixes tristes   Uma ternura congelada No fundo das águas do tempo Pedra talhada pelas ondas de sentimento Quebrando nos muros do peito Tudo resiste O coração as artérias o entupimento O esgoto O gosto O rosto e sua superfície Cada vez mais áspera Carregando a vida nas rugas Nas rusgas que crescem em silêncio A noite é um mar inconsolável Que quebra (n)as paredes do peito E não há jeito De não naufragar em si mesmo Tempo instável O coração é uma embarcação Sem bússola Sem ursa maior Sem nó Um sol menor da sinfonia Que rege a poesia da escuridão Tudo é vão e tanto Tantos vão(s) (e não voltam) Vazias as ruas cardíacas nessa hora A chuva dos olhos molha Suas árticas calçadas ( onde pede abrigo morrendo de frio a memória). . (RaiBlue) . Pintura da japonesa: Miho Hirano

NO BLUE(S) NOTURNO DOS TEUS OLHOS

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No Blue(s) noturno dos teus olhos amanheço incêndio um rio de palavras em fogo quem disse que não te ouço? teus olhos recitam poemas na fundura de um poço (que sou soul... soul...soul!) tudo agora é eco e o rigoroso inverno até se esquece entre as cordas desse blues que teus olhos tocam o arco da íris a flecha o feixe de luz adentrando o quarto o corpo o sol do meio da noite dos teus olhos se pondo em meu matinal riacho a manhã é um lençol de água quente entre as coxas e uma guitarra ao fundo: tua íris (abrindo minha concha). . (RaiBlue)

TEMPO AUSENTE

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Má Sã Serpente No canto da cama a maçã e o ventre no canto da trama os sons dos corpos (o tempo ausente) derrubando o céu quarto adentro. . (RaiBlue)

INVERNO FEBRIL

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O dia nasce em convulsão (apesar do inverno) quarenta graus febril a carne encharca a cama sozinha se faz pão e água. . (RaiBlue)

UM MATISSE NO FIM DE TARDE DE MAIO

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Do que no peito é harpa invade a casa toda agora altas horas e o corpo não dorme flutua entre a íris da noite e o que não tem nome se consome na melodia da aorta não há portas aportas sempre sem aviso no que em mim é água e jorra lua se desmanchando no calor da carne lumiando a casa inteira uma música francesa porque a língua pede eros cardíacos e etéreos são os sons nessa hora meu corpo sobreposto ao teu tom sobre tom sem desafinar os sussurros química, física quânticos caminhos ab surdos o amor forra o outono com nossas cores um Matisse de um fim de tarde de maio. . (RaiBlue)

BÊBADOS DE NÓS

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Quando amadurece a hora a noite cai sobre o corpo a boca sente o gosto de estrelas cadentes cá dentes anseiam morder o tempo da espera espremer os segundos degustar o sumo lamber o escorrer dos ponteiros até que fiquem mudos tudo é líquido e liquida com qualquer convicção: a pedra no caminho somos nós desatados da correnteza o escuro desmancha os cálculos (renais) riem mais os olhos quando colidem com a lua e a noite dança nua dama daime danúbio (azul azul !) vermelhas as bocas deslizando para o sul da nossa desordem o agora enorme dissolve as margens do tempo estamos sóbrios e bêbados de nós. . (RaiBlue)

CLARICE

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Ela desenhava um pássaro nas coxas, uma asa em cada par. Era na carne que voava. No alado céu de pelos macios, mergulhava, com seu voo rasante de quem sabe que tênue é tudo que separa. Era inteira sendo partes que se tocavam no íntimo som das águas,quando molhava suas asas. Terra, céu, mar, ar não lhe faltava, tinha fôlego de peixe. Nadava, nadava nos espaços que seu corpo permitia, mas ninguém entendia e julgava Clarice. Só porque nasceu mulher, não podia explorar as paisagens que se estendiam carne afora, tinha que carregar suas asas encolhidas nos ombros, pesadas de tanto guardar seus sonhos? Não. Clarice não aceitava, tinha suas asas nas coxas. Apertava entre as pernas o mundo. Nas paredes internas do seu útero, um dia descobririam grafitado um poema, porque Clarice era isso : carne viva e se servia como hóstia que colava no céu da boca pra nos lembrar o quão profano é o sagrado, no corpo que possui asas. Que mistério tinha Clarice? Ser Clarice e mais nada. ...

NO MEIO DE UM VERSO LIVRE

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O meu lugar é onde não estou aqui jaz qualquer coisa de mim um jazz jasmim uma melancolia que carregava por trás dos dentes sempre ausente eu era o que ninguém via camuflada pela poesia uma elipse que ninguém descobria no meio de um verso livre. . (RaiBlue)

AMOR DE FERRO(VIA)

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Não posso odiar você não posso adiar meu coração o tempo não é uma invenção e corta com seus afiados punhais nos punhos ainda tenho as asas que um dia inventei para irmos à Pasárgada mas mal passamos das grades que o amor colocou no meio do peito um deus possessivo menino malcriado feriu-se quase suicidou mas ainda restou em seus pulsos abertos o nosso DNA e nenhuma resposta anterior explicará o amor que não morre nem de anemia profunda contém ferro amor de ferro (via) dentro dos vagões do tempo. (RaiBlue)

NOITE ABERTA

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Na noite aberta o silêncio escreve na parede branca cresce a onda no azul dos corredores do meu peito não há teto não há tato (constato) afogo-me nas palavras incendeio há fogo nas águas nascentes de versos pela casa inteira estrofes estradas estrangeira minh'alma só no poema : terra firme. (RaiBlue)

PERSONA

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cá estou pessoa personagem as sombras no porão um escorpião imóvel (dentro da noite) esconderijo coxia esperando o espetáculo de mais um dia a cena acena a máscara na cabeceira do tempo o corpo nu até que a cortina se abra. . (RaiBlue)

ÚLTIMO SABAT

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Entre as penas da vida entre suas pernas está a minha redenção hei de usar bem a língua no meio da vida em frenéticos movimentos (de revolução) da explosão do corpo escorrerá o tempo sobre os Andes que nos separam e um pouco antes do incêndio das cordilheiras dos dias ouvirás meu grito lá do pico como o último sabat orgástico místico é o tempo suspenso no corpo um origami o amor (re)pousa no rosto no rouge do meu batom seu último verso tem o gosto do meu sexo. . (RaiBlue)

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Poemas paridos do ventre do mundo já nascem falando da falta de amor. (RaiBlue)