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Showing posts from January, 2010

De músculos e moluscos

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Somos feitos de músculos, silêncios e estrondos Moluscos amantes na concha que se entrega ao mar... O destino a onda que arrebenta no acaso E no sem sentido cem sentidos tatuam algas nas águas do corpo... É o verde retirando as pedras Desbravando terras que ainda transpiram Na secura de um país quase deserto... E o orvalho do instante fertiliza o eterno A liberdade é um poema concreto ...de carne Matando a fome nos becos da orgia da língua Saciando a sede nos rios de açucenas Açudes nas bocas que se perdem uma dentro da outra Poesia que se afoga nos abismos que afagam... Nas entrelinhas o prato é fundo   [cabe o verbo engasgado do mundo!] Mas nem todos enxergam no escuro E morrem de fome às claras [a fera na esfera do olho amordaçada] Afundam no raso e a poesia vai pro ralo Da vida hipotecada Do vazio que vaza das grades do olho Alma sem janelas... Jaula! (RaiBlue)

Grãos de viagem

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  Deserto de carne A pele dis_solve a miragem Suor da noite [oásis] Dunas do tempo [ vaza a ampulheta no infinito ] Um instrumento nas mãos de_cifra Uma canção ao vento [toco-te!] Se parte na areia o silêncio [grãos de viagem] Tua voz um Prelúdio de Bach Te sei de ouvido [Não duvides do meu dom!] [Teu tom desafina minha incerteza Não a[há]pontes fim nem começo-meu olho voa além] Teu corpo equador me divide [ num quociente sem restos] Só rastros de poente se deitando no mar... E eu nu_a_r_risco um poema Não te rimo, me remas Como um teorema de um louco suicida! Te salvas, quando te mato [H]A_tiro [em] minha língua... Ha_i[em]_ti um país que se refaz O tumulto e o silêncio num mesmo instante bruto Cai o lilás sobre o rubro Do outro lado do caos há cais... (RaiBlue)

O sempre que nunca dorme

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Atr(avesso) o oceano Como se mergulhasse por dentro E no fundo de mim re_ pousasse o sempre que nunca dorme Ainda que as águas sejam efêmeras E nas correntezas a vida (ávida ) muitas vezes vá e não volte... Por mais que minha boca diga não Quando a razão mastiga o instinto Meu corpo todo ecoa o que sob a pele sussurra [ por onde tua língua_serpente em  silêncio desliza] E a maçã no escuro que nos separa cintila E toda distância recua Por essas ruas Onde minhas veias [mar vermelho] São tuas vias [sem saída]   E tu rio nem vias o teu destino Ser_ tão_ mar nos meus arteri_ais caminhos Misturados não há como evitar A transfusão de  a_ mar  Do_ar  renascemos... (RaiBlue)

Salva_dor daqui ...de dentro de mim...

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  Quando a noite devora a tarde Há em mim um barco que se perde Uma lua que dança e arde Pelo Rio Vermelho da pele E Salva_dor daqui é mais abstrata que Dali Se dissolve no corpo toda prof(un)anidade E os olhos se espantam com o sagrado Que em harmonia samba com a carne E minha saia gira na ciranda das paisagens Olhos rodopiam pelas minhas coxas à vontade E a beleza se espraia nas ladeiras que invadem o mar Batuque e marulho ritmizam este lugar de se encantar E eu sambo até que o suor se torne oceano E por cada canto do corpo ecoe um canto Um santo abençoe a minha fome De misturas, texturas e perfumes  Amores que me con_somem Na cidade do eterno navegar... (RaiBlue )

No fundo do céu

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Espirais de fumaça Embalam a noite que dança Sonhos desenhados no ar A cigarra já não canta O cigarro faz a dor evaporar... Nada distrai Tudo contrai A noite traz O que o dia trai... Navalha afiada do silêncio Cortando o grito Na foz do sentimento O rio corre por dentro Sou a nau que parte sem destino Nas águas da madrugada E faz morada em alto-mar... Minha alma estendida No fundo do  céu Pipa colorida no meio do nada E a tempestade nos olhos A lavar a casa A levar as asas Coração derramado no papel... Afogada no branco da página Que a escuridão escreve Bóio sobre as linhas sem margens Deixo que as ondas me levem... E a vida  se alonga Por um instante breve Quando bebo o breu Meu ópio,  minha prece... (Raiblue)

O pó...a ótica e a po_ética...

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"...que nos escuros claustros do poema Eu encontre afinal minha certeza." (Hilda Hilst) A noite é prostituta, e a palavra morde suas ruas, suga, em suas tetas, a sedução e o medo. Os corpos bebem a música noturna como a um cálice de salvação! O crime, a carne, um segredo. A navalha da língua afia, nas coxas das esquinas nuas, versos enc_ardidos que ejaculam a poesia, espesso vermelho proibido.  E o verbo rasga todas as impossibilidades, conjuga a liberdade em todos os tempos, no mais que (im)perfeito presente, sem futuro, porque a palavra é abismo, é o escuro saindo de dentro, é um silêncio cortante sangrando o papel. Ser livre dói, nessa prisão de amordaçados pela falta de palavras, pelo comodismo de um café com leite, cama, mesa, alguns trocados de amor e quase nenhum diálogo, senão alguns imperativos, e a poesia esquecida dentro de um livro, na fotografia de um tempo que não volta. A poesia que dorme comigo e me acorda, num gozo que mistura sal e sangue, sabe qu...