De músculos e moluscos

Somos feitos de músculos, silêncios e estrondos Moluscos amantes na concha que se entrega ao mar... O destino a onda que arrebenta no acaso E no sem sentido cem sentidos tatuam algas nas águas do corpo... É o verde retirando as pedras Desbravando terras que ainda transpiram Na secura de um país quase deserto... E o orvalho do instante fertiliza o eterno A liberdade é um poema concreto ...de carne Matando a fome nos becos da orgia da língua Saciando a sede nos rios de açucenas Açudes nas bocas que se perdem uma dentro da outra Poesia que se afoga nos abismos que afagam... Nas entrelinhas o prato é fundo [cabe o verbo engasgado do mundo!] Mas nem todos enxergam no escuro E morrem de fome às claras [a fera na esfera do olho amordaçada] Afundam no raso e a poesia vai pro ralo Da vida hipotecada Do vazio que vaza das grades do olho Alma sem janelas... Jaula! (RaiBlue)