Tuesday, January 12, 2010

O pó...a ótica e a po_ética...




"...que nos escuros claustros do poema
Eu encontre afinal minha certeza."
(Hilda Hilst)

A noite é prostituta, e a palavra morde suas ruas, suga, em suas tetas, a sedução e o medo. Os corpos bebem a música noturna como a um cálice de salvação! O crime, a carne, um segredo. A navalha da língua afia, nas coxas das esquinas nuas, versos enc_ardidos que ejaculam a poesia, espesso vermelho proibido.  E o verbo rasga todas as impossibilidades, conjuga a liberdade em todos os tempos, no mais que (im)perfeito presente, sem futuro, porque a palavra é abismo, é o escuro saindo de dentro, é um silêncio cortante sangrando o papel.

Ser livre dói, nessa prisão de amordaçados pela falta de palavras, pelo comodismo de um café com leite, cama, mesa, alguns trocados de amor e quase nenhum diálogo, senão alguns imperativos, e a poesia esquecida dentro de um livro, na fotografia de um tempo que não volta.

A poesia que dorme comigo e me acorda, num gozo que mistura sal e sangue, sabe que prazer e dor fazem o ‘super-homem’, ela quer a intensidade da fome, despe meus an_seios e me veste de liberdade, faz ecoar o grito da angústia corroendo o estômago e a gargalhada de um orgasmo livre e insano, porque sabe que só a loucura faz todo o sentido, só ela cura a razão!

Poemas são línguas soltas e ambíguas como a vida, se lambuzando, numa orgia, à qualquer hora do dia. A palavra em êxtase é o meu olho alucinado catando, entre os cacos humanos, pactos inconfessáveis, porque a poesia revela e é secreta como uma seita, uma seta para o infinito mistério! Ela sou eu, perdida, bandida, bêbada de lucidez, fingindo fingir, e assim, existindo, pois ‘ser’ é (im) preciso, e se isto não é possível nesse mundo desfigurado, que seja, então, no figurado, onde o véu da palavra é a placenta que me protege e alimenta. Renasço do seu ventre, quando meu olho copula com o mundo, através de sua ereção. A palavra tesa penetra fundo os becos, rasga o escuro...até sangrar, e o prazer ser extraído nem que seja a seco. Ela é flecha, é faro, é fera que ninguém domina! Por isso a roubam do povo, mantendo um país sem voz, senão a dos ditadores ‘sem palavra’, que a estupram e tiram-lhe toda a poesia que um dia poderia despertar o homem de dentro desse silêncio corruptor , que tortura a vida presa na garganta...sem nem, sequer, um gole d’água...

E em pó a ética se transforma, e a poética satiriza as ruas e suas dramatiz_ações...Gregoriana_mente insisto em ser barroca nessa pós-modernidade feita de versos livres que se perdem na disritmia de uma poesia acelerada, tão fragmentada quanto suas personagens.

Ainda quero gastar os meus sapatos, há muitos passos a ser dados... No Paço, ainda muitas promessas pelas escadarias... Na minha cidade, a poesia não dorme, caminha comigo, grudada aos meus pés, entre pedras e mar,alinhando caminhos na palma das mãos perfumadas de alfazema, e pelas ladeiras escorre como nascente de sonhos...

Arranha-se...afoga-se..., mas a poesia não cansa de denunciar o feio, e o belo, afagar...re(x)citar!


(RaiBlue)

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