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Showing posts from October, 2016

DA TRANSPIRAÇÃO DAS RUAS

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Ele se apressava e embora o tempo passasse acelerado  entre os roncos de motor dos carros  à procura de drive-in o nosso filme era ali à céu aberto e em câmera lenta a cidade exalava feromônios o cio jorrava pelos córregos dos corpos e das esquinas em meu ouvido ele soprava fogo que virava lava que lhe queimava os dedos doidos (na boca o gosto de adrenalina) ele falava pequenas ousadias que cresciam em minhas mãos teu falo escravo dos meus movimentos obedecia como um bom cavalo & eu escorria como um riacho (no centro da cidade) éramos explosivos mais quentes que o óleo diesel  da transpiração das ruas . . (RaiBlue) Pintura:  Jorge Gouvea * Valeu pela inspiração, querido! 

NO BLUES DA CARNE

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A água engolia a cidade Como a grande onda  O peito uma onça mansa A atravessar a chuva O caos uma jaula úmida De medos e agonia Que o céu tentava afogar Como escapar do mar que batia Nas pedras do caminho E furava a onda da ilusão? Carregava no corpo ainda Seu último poema Nem a chuva desmanchava A mancha escondida Encardida  Do tempo Carros Faróis E o faro a me levar À escuridão dos sótãos Por baixo da pele Deslizavam luminosos caracóis  Nos cantos de umidade No canto triste da carne: Um blues feito De água escorria lento Amanhecerei? Talvez Já era tarde e eu tão cedo estiaria. Apenas mentia E vivia nas mãos de outros Sendo outras E de ninguém. . (  Rai Blue  ) . Pintura :  Jorge Gouvea

NO BRAILE DO CORPO

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Em braile & mudo meu corpo precisa de tuas mãos para falar tudo & tanto que guardo nas camadas geológicas que (es)trago do amor de outras eras da hera que nasce da pedra mais alta como um milagre. (Rai Blue)

DA LITURGIA DE SUA CARNE

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Gostava de andar armada no bolso guardava sempre um poema pra sua vida sem rima sem remo vivia beijada pelo verso todo dia na boca no ventre na ventania de sua língua era o avesso de um verso comportado beat poeta ela era  à margem das regras uma sintaxe dela amava sem etiquetas gostava de amor de mercado livre de feira becos e breguices era uma música de Rossi de Ana C. um Blue kiss e a *ausência desencorporada de Emily em cada versículo da liturgia de sua carne. . (RaiBlue) . * Pintura : Bruce Holwerda. * Título de um poema de Emily Dickinson.

MAR DA PELE

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Mergulha-me dissolva-se em cardumes que roçam o mar da pele me ama  com tuas barbatanas incandescentes penetrando meus abismos tuas escamas me despem num simples atrito em bravias arranhuras de amor basta isso e morremos afogados na vida que espuma de uma epilética luminosidade que vem das funduras a felicidade dura o tempo de um sussurro. . (RaiBlue)

A GRANDE ONDA

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Quando quebro o crepúsculo Os raios de sol seguro Como a uma espada A cortar a noite Em pequenas miragens  Que emergem do mar Não ha como escapar A escuridão é a grande onda Gélida, muda, vândala A engolir meu pequeno império De lucidez Ergo um templo sobre as águas Pra te receber  Com calmas correntes de afeto Que cortam o mar que nos lança Um sobre o outro Dos corpos cruzados nasce a lótus branca Cortando o azul das marinhas tranças Do tempo que dança apertado Entre os nossos rostos Teu olho é o planeta mais distante Caindo em meu mundo  Em suas voltas pelo centro  De tua ambiguidade De tua ficção eu sou a cidade Pra onde sempre retorna Pra se deitar nas águas mornas  Dos rios dos meus olhos de jade. . (RaiBlue) . * Pintura: Trini Schultz

INCÊNDIOS

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Voyeur de teus incêndios vermelhos obscenos se insinuam entre os meus  e os (a)teus olhos não há deus  que evite  que eu me queime não há reza que apague o fogo entre as pernas. . (RaiBlue) *Pintura: Astrid Bruning

UM ANDES NO MEIO DAS COISAS

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Arrastava os móveis como se quisesse ajeitar  os (in)comodos de dentro os arranhões na madeira era uma maneira de se cortar tirar as marcas do amor do chão que um dia foi esteira e o estio da sua carne que sempre secava qualquer chuva  no corpo a corpo agora chovia era um inverno longo a neve do seu coração cobria a primavera uma cordilheira se erguia no peito os jardins suspensos do seu quarto murchavam um Andes crescia no meio das coisas que não conseguia arrumar lá do alto recitava Pablo como uma prece ou suicídio? Neruda sempre foi um tiro na jugular. . (RaiBlue) *Pintura: Karina Llergo Salto

TEU GOSTO DE LUA

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As estrelas se esqueceram no céu da minha boca a noite toda ainda cabe aqui a manhã beijando o corpo de língua me lembra o poema que a tua re(x)citou em meu ventre a pele ainda sente teus versos livres nas paredes do meu útero contraio e traio o sol com o teu gosto de lua incandescente mordendo os lábios da manhã. . (RaiBlue) . * Pintura: Johnny Morant.

TEIA MÍSTICA

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Giragiragira lua cheia enfeitiça agita a gitana incendeia a teia mística ateia a vida a vulva striptiza dama  da noite nuas vias dançam em círculos quântica física (movimentos curvilíneos  uniformes é a estrada  do clitóris). . (RaiBlue) . *Pintura : Sabrina Gevaerd

AFAGOS SOLTOS

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Umedeça minha raiz xamã do meu corpo e então a chama líquida depois da adrenalina será minha explosão  de dopamina minando toda resistência consumindo o fogo afagos soltos amaciam a cama ( onde antes  cavalgavam selvagens cavalos) agora passeiam na relva doce cardumes calmos nos pequenos lagos dos grandes lábios oásis daime dai-me o transe da correnteza dou-te na boca  o meu Ganges sagrado. . (RaiBlue) . *Pintura: Dorina Costras.

NA PEDRA FUNDA DOS TEUS OLHOS

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De todos os topázios que topei pelo caminho foi o teu olho pedra funda  de água doce que enfeitou o meu vestido cor da pele agora nua toda noite brilho mais que a lua deixo o escuro pra trás como página mal escrita de um diário que inventei quando pensava que existia agora existo, logo sinto descarto a pedra dura do pensamento e amoleço na pedra funda de água doce dos teus olhos. . (RaiBlue)

VÊNUS DO SEU DELTA

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Lia Anais  e Ana ia a  Vênus era ela a Vênus do seu delta (nada matemático) não tinha raiz  (exata) Ana não era quadrada era de vanguarda não guardava o agora vivia cada página que lia e das paredes do seu útero (onde escrevia) ecoavam onomatopeias tortas tonta  Ana ainda  era onda procurando mar. . (RaiBlue) . Pintura: Jorge Gouvea.

SAARA À BEIRA DA (LOU)CURA

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Suga-me a raiz Racha o chão que me prende Teu calor derrete toda minha antártida e me faz pátria  erguida no ar (do teu fôlego) solto o bicho trans vestido geme e voa o Yin & o yang co pulam nu horizonte dos corpos quentes uma panapanã  brota do cérebro asas golpeiam as cercas duras que nos dividiam em hemisférios mistério: somos sol a noite inteira um saara à beira da ( lou )cura. . (RaiBlue) . Pintura : Jorge Gouvea.