Sunday, October 30, 2016

UM ANDES NO MEIO DAS COISAS


Arrastava os móveis
como se quisesse ajeitar 
os (in)comodos de dentro

os arranhões na madeira
era uma maneira
de se cortar

tirar as marcas do amor
do chão que um dia foi esteira
e o estio da sua carne
que sempre secava qualquer chuva 
no corpo a corpo

agora chovia
era um inverno longo
a neve do seu coração
cobria a primavera

uma cordilheira se erguia no peito
os jardins suspensos
do seu quarto
murchavam

um Andes crescia no meio das coisas
que não conseguia arrumar

lá do alto
recitava Pablo

como uma prece ou suicídio?
Neruda sempre foi um tiro na jugular.
.
(RaiBlue)

*Pintura: Karina Llergo Salto

No comments: