Arrastava os móveis
como se quisesse ajeitar
os (in)comodos de dentro
os arranhões na madeira
era uma maneira
de se cortar
tirar as marcas do amor
do chão que um dia foi esteira
e o estio da sua carne
que sempre secava qualquer chuva
no corpo a corpo
agora chovia
era um inverno longo
a neve do seu coração
cobria a primavera
uma cordilheira se erguia no peito
os jardins suspensos
do seu quarto
murchavam
um Andes crescia no meio das coisas
que não conseguia arrumar
lá do alto
recitava Pablo
como uma prece ou suicídio?
Neruda sempre foi um tiro na jugular.
.
(RaiBlue)
*Pintura: Karina Llergo Salto
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