Sunday, October 30, 2016

NO BLUES DA CARNE



A água engolia a cidade
Como a grande onda 
O peito uma onça mansa
A atravessar a chuva

O caos uma jaula úmida
De medos e agonia
Que o céu tentava afogar

Como escapar do mar que batia
Nas pedras do caminho
E furava a onda da ilusão?

Carregava no corpo ainda
Seu último poema
Nem a chuva desmanchava
A mancha escondida
Encardida 
Do tempo

Carros
Faróis
E o faro a me levar
À escuridão dos sótãos
Por baixo da pele

Deslizavam luminosos caracóis 
Nos cantos de umidade
No canto triste da carne: Um blues feito
De água escorria lento

Amanhecerei? Talvez
Já era tarde e eu tão cedo estiaria.

Apenas mentia
E vivia nas mãos de outros
Sendo outras
E de ninguém.
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Rai Blue )
.
Pintura : Jorge Gouvea

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