“Eu só confio nas pessoas loucas, naquelas que são loucas para viver,
loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo
tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam,
queimam, queimam…”
...estou sempre na estrada... à
beira de mim mesma. Necessito ir além desse abismo que é ser eu. Não há
o caminho. E só há sentido no sem sentido, onde tudo cabe, como que
para compensar o vazio corrosivo de não pertencer. Engulo tudo que vejo
pela frente. Não mastigo. Não me interessa a digestão. A pós-modernidade
me deu como matéria-prima a ansiedade-cor-de-chumbo. É um tiro na
calma. Eu quero só encher, encher..., até explodir como um gozo na noite
mais devassa, espumando na minha língua. Prostitua é a vida vendida por
qualquer migalha de amor. Cato todas. Cactos por todo lugar. Secura na
boca. Álcool. Qualquer coisa que arda e molhe e me atire pra longe da
minha memória. Alzheimer. Hoje eu só quero escrever o que não vivi
ainda, mas existe em algum lugar aqui dentro. De outras vidas? De outro
tempo? Não me interessa nada que não seja esse presente imperfeito
indefinido. Provisória. Promissórias. Não terei que pagar nada no juízo
final. Tudo fétido sob o perfume francês. Tudo fútil e fugaz como essa
fumaça que me faz esquecer. Até meu sangue é volátil. Não há genética
que me identifique. No meu gráfico, não há ponto de origem, nada
cartesianamente planejado. Nem eu fui. Matematicamente uma equação que
não tem solução no conjunto real. Talvez no vazio. Um vazio cheio de
possibilidades que pintam o céu de um azul-melancólico-intenso. Minha
carne queima antecipadamente nas curvas dessa estrada. Santa inquisição
que me salva da mediocridade humana de ser sempre o que esperam,
enquanto eu me desespero nessa inconsistência de mim. Mas é um desespero
doce. Bebo como a um antídoto. Extraio a melancolia das veias e injeto
na palavra. E ela alucinada vai me levando como uma amante que conhece
bem meus desejos mais pervertidos (que na verdade são de todos). E a
angústia vira gozo. Tudo de qualquer jeito é sal. Que eu lambo. Que me
lambem. Sede. Cada vez mais. Sou um sertão no meio da cidade. E, das
tempestades de areia, faço uma tenda e me deito e me deleito nos
pequenos oásis que se abrem em pleno caos. Brigo com Crhonos que
insiste em provocar minha mente. Entorpeço-o com uma “seda” bem feita
para as viagens, e ele, por horas, me esquece e me deixa tecer as rotas,
as retas, os ritos que invento para me sentir renascendo, numa
constante fuga de uma inexistência anterior, sempre ao encontro de um
desconhecido, que de dentro do meu próprio abismo possa emergir, me
oferecendo um gole de vida... E eu que já morri tantas vezes , On The
Road vejo a eternidade despontar na vida que escrevo para além dessa
página..com as palavras pulsando em cada curva do meu coração, entre
farpas e harpas...serpentes e maçãs...
Antídoto ou veneno...agora tudo que eu quero é dormir...
(RaiBlue)
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