Wednesday, July 18, 2012

On The Road




“Eu só confio nas pessoas loucas, naquelas que são loucas para viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam…”


...estou sempre na estrada... à beira de mim mesma. Necessito ir além desse abismo que é ser eu. Não há o caminho. E só há sentido no sem sentido, onde tudo cabe, como que para compensar o vazio corrosivo de não pertencer. Engulo tudo que vejo pela frente. Não mastigo. Não me interessa a digestão. A pós-modernidade me deu como matéria-prima a ansiedade-cor-de-chumbo. É um tiro na calma. Eu quero só encher, encher..., até explodir como um gozo na noite mais devassa, espumando na minha língua. Prostitua é a vida vendida por qualquer migalha de amor. Cato todas. Cactos por todo lugar. Secura na boca. Álcool. Qualquer coisa que arda e molhe e me atire pra longe da minha memória. Alzheimer. Hoje eu só quero escrever o que não vivi ainda, mas existe em algum lugar aqui dentro. De outras vidas? De outro tempo? Não me interessa nada que não seja esse presente imperfeito indefinido. Provisória. Promissórias. Não terei que pagar nada no juízo final. Tudo fétido sob o perfume francês. Tudo fútil e fugaz como essa fumaça que me faz esquecer. Até meu sangue é volátil. Não há genética que me identifique. No meu gráfico, não há ponto de origem, nada cartesianamente planejado. Nem eu fui. Matematicamente uma equação que não tem solução no conjunto real. Talvez  no vazio. Um vazio cheio de possibilidades que pintam o céu de um azul-melancólico-intenso. Minha carne queima antecipadamente nas curvas dessa estrada. Santa inquisição que me salva da mediocridade humana de ser sempre o que esperam, enquanto eu me desespero nessa inconsistência de mim. Mas é um desespero doce. Bebo como a um antídoto. Extraio a melancolia das veias e injeto na palavra. E ela alucinada vai me levando como uma amante que conhece bem meus desejos mais pervertidos (que na verdade são de todos). E a angústia vira gozo. Tudo de qualquer jeito é sal. Que eu lambo. Que me lambem. Sede. Cada vez mais. Sou um sertão no meio da cidade. E, das tempestades de areia, faço uma tenda e me deito e me deleito nos pequenos oásis que se abrem em pleno caos. Brigo com Crhonos  que insiste em provocar minha mente. Entorpeço-o com uma “seda” bem feita para as viagens, e ele, por horas, me esquece e me deixa tecer as rotas, as retas, os ritos que invento para me sentir renascendo, numa constante fuga de uma inexistência anterior, sempre ao encontro de um desconhecido, que de dentro do meu próprio abismo possa emergir, me oferecendo um gole de vida... E eu que já morri tantas vezes , On The Road  vejo  a eternidade despontar na vida que escrevo para além dessa página..com as palavras pulsando  em cada curva do meu coração, entre farpas e harpas...serpentes e maçãs...

Antídoto ou veneno...agora tudo que eu quero é dormir...

(RaiBlue)

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