Tuesday, May 19, 2009

"Não o amor, mas os arredores que vale a pena..."



Fernando Pessoa-O livro do desassossego.O fato de se tratar de fragmentos - ajambrados por um organizador - q permitem a leitura a partir de qualquer ponto... não faz deste livro um dicionário ou com qualquer sentido enciclopédico. Ora, a coisa está num âmbito mais simples. O fato de ser possível se identificar nas páginas do LD uma obra com aquilo q chamam de universal - ou pelo menos com traços culturais comuns aos ocidentais. "...tudo me interessa, mas nada me prende", por exemplo. acho q tenho muito a ver com essa frase, mas, ora, é uma obviedade dado os tempos que vivemos. e grandes obras também sobrevivem ao seu período imediato... Costumo dizer que o Livro do Desassossego é um espelho da alma inquieta dos artistas ,dos amantes.dos demasiadamente humanos, suas palavras vão entrando como um encaixe perfeito, como luvas para as mãos curiosas e carentes .Eis alguns trechos inesquecíveis deste livro :"Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.""De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo...Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter...Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo..."Meu destino foi outrora em vales profundos.Som de águas que nunca sentiram sangue rega o ouvido dos meus sonhos. O copado das árvores que esquece a vida era verde sempre nos meus esquecimentos. A Lua era fluida como água entre pedras. O amor nunca veio àquele vale e por isso tudo ali era feliz. Nem sonho, nem amor, nem deuses em templo, passando entre a brisa e a hora[...]As coisas sonhadas só têm o lado de cá... Não se lhes pode ver o outro lado... Não se pode andar à roda delas... O mal das coisas da vida é que podemos ir olhando por todos os lados... As coisas de sonho só têm o lado que vemos... Ter amores puros como as nossas almas...-""Ter opiniões é estar vendido a si mesmo. Não ter opiniões é existir. Ter todas as opiniões é ser poeta"."Em nada me pesa ou em mim dura o escrúpulo da hora presente. Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições." (...)"Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca reconhecem quando encontram; daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo assim não as reconheceriam. Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção desdenhosa. Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os poetas românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é realmente poeta romântico. Encontro-me descrito (em parte) em vários romances como protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha alma, é não ser nunca protagonista...""Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.Que coisa tão reles e baixa que é a vida! Repara que para ser baixa e reles basta não a quereres, ser-te dada, nada depender da tua vontade, nem mesmo da tua ilusão da tua vontade.Morrer é sermos outro totalmente. Por isso o suicídio é a cobardia; é entregarmo-nos totalmente à vida."O livro do desassossego é leitura obrigatória!Na pessoa do Pessoa nos perdemos e nos encontramos, enlouquecemos e nos salvamos!

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