Sunday, January 11, 2009

Mastigando a hóstia dos desequilibrados...




"A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pelos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções"


(Caio Fernando Abreu)


...............................................ondas, ondas, ondas........
foi tudo que restou desse mergulho no abismo desses seus olhos imaginários , um moinho que foi me levando para um fundo oco.Quanto mais adentrava sua íris, menos eu via, mais você se escondia. Era como tivesse atravessando um jardim de Monet, sem flores; uma tela de Dali e sua mistura de cores e tantos significados que eu iria decifrar ou me perder, sem ao menos entender o porquê.

E o futuro do pretérito tornou-se rapidamente um presente do indicativo de mais uma ilusão. Nenhuma mutação, as asas roubadas, a vida paralisada num tempo que não é nem ‘agora’ e talvez nunca tenha sido ‘antes’. Como ser ‘depois’ o que nunca foi? Estou perdida num espaço sem movimento, sem ação, sem verbos para conjugar. As palavras escoaram pela descarga do seu silêncio, e junto a elas, detritos de sonhos boiando na superfície do nada ou apenas mentiras sinceras, que de tanto acreditarmos, tornaram-se verdades.

Fugir, fugir, será a vida isso? Insônia, orgasmos, sedução, intensidade e depois o vazio? Restos de cigarros, rastros de uma emoção vivida, logo transformada em ilusão? Mas se existem vestígios, ainda que cinzas, alguma coisa foi matéria,
foi corpo, mesmo que intocável, sinal de que não foi totalmente ilusão, talvez uma invenção, um veneno anti-monotonia para nos distrair ou nos trair...É assim que me sinto, traída por mim mesma, por não conseguir resistir ao vício de ‘inventar’ coisas, pessoas, amores, 'eus' incorrigíveis, descontínuos, pois minha vida sempre foi um filme não-linear, sem direção, pura experimentação, uma forma de me sentir livre...A alma? Uma andarilha solitária, uma gitana a girar e provocar o mundo...sou do mundo, talvez por isso não possa pertencer a você!!!

Carregamos nossas maldições, infrações, criando nossas próprias regras, pensando que estamos desmascarando a farsa social, esquecendo-nos que somos a própria farsa. Contudo, quando tiramos as máscaras, tudo que vemos é outra e outra e outra e outra... Quem restará quando todas as máscaras caírem? Sobrará algum ‘eu’ ainda, inteiro, capaz de nos salvar?

Não consegui tocar sua pele a tempo, para sentir o cheiro desse animal selvagem que se escondia por trás da maciez do seu carinho, um colchão de miragem, onde gostava de me deitar. Mas logo veio o ataque, a armadilha. Se ainda fosse me devorar como eu gosto de ser devorada, mas não, não soube sentir o prazer da minha carne, seu lobo bobo, acho que eu era uma loba mais faminta ! Perdeu minhas mordidas... , aposto que teria adorado ser meu banquete e beber do meu sangue, do meu néctar ..., todos dizem que é doce, sabia?

E assim, fomos personagens desse ‘ auto’ impiedoso, cruel. Digo ‘auto’, pois chegou primeiro pelo espírito, e porque para mim o amor é divino, com toda sua perversão e devoção! Somos anjos e demônios, reinventando pedacinhos de céus e montanhas de infernos o tempo todo! A religião alavancando o mundo, e Deus cada vez mais distante ( ou o homem cada vez mais longe de Deus? ). Rezamos tanto pela paz, e o que temos é uma tremenda indiferença (divina ou humana?). Talvez porque a reza seja palavra dita ou mentalizada, mas palavras, e estas escoaram pela descarga do silêncio mortal, lembram? Silêncio gerado por aqueles que pensam ter o poder, amordaçando-nos. O poder de transformar em detritos os sonhos nossos de cada dia! Eles dão as cartas, comandam o jogo e nós, calados, aceitamos jogadas que não são nossas. Concordamos com relações unilaterais, para não sermos descartados do jogo.

E vamos todos nós comungando a mesma dor, mastigando a hóstia dos desequilibrados, do descaso e bebendo o sangue do maior pecado, sangue amargo: a falta de amor.

E o que faço com esse vazio? Guardo no bolso? Não, esvaziar é dar espaço para outras coisas chegarem. Não quero mais a liturgia que sai de sua boca, nas manhãs de domingo cheias de promessas feitas de giz. Eu quero mesmo é rasgar qualquer forma de contrato, pois quero a palavra no corpo, no ato, penetrando-me bem fundo, louca, solta, despudorada, líquida e espumante, até transformar-se, não em sussurros, mas numa bendita e profana gargalhada!

Tudo secou, contudo eu continuo molhada por dentro e não é de lágrimas...

Continuo escorrendo...........escorrendo..........................

E de repente, no triste blues dos meus olhos inquietos, de novo o louco blue do vício do prazer e o juízo pra lá de perdido, sem final...

O pássaro das' pequenas-esperanças' continua a sobrevoar a realidade, apesar do caos e dos cacos............Que seja doce o próximo pouso, que seja deliciosamente doce................


(Raiblue)

1 comment:

Anonymous said...

Contentes na vida como num baile de máscaras. Basta-nos o agrado do traje, que no baile é tudo! Somos servos das luzes e das cores, vamos dançando com a verdade que está por debaixo dos trapos, que não é senão a paródia íntima da verdade do que nos supomos!...

... mas no blues dos teus olhos inquietos, permanece o louco blue do vício do prazer, como pássaro de fogo sobrevoando o abismo, doce e fascinante!
........Que seja doce o próximo pouso, que seja deliciosamente doce................
será... se tu quiseres... basta um gesto, uma palavra, um leve sinAL!.....