Saturday, March 15, 2008

PELA JANELA UM BLUES PARA RAIBLUE



PELA JANELA UM BLUES PARA RAIBLUE!

A lua movia-se com sua pureza no abstrato daquela noite longa, esférica e cheia de tristezas e brisas. Escutava-se ao longe o solo da clarineta de Tony Parenti, ou seria o piston de Max Kominski? Numa movimentada festa de jazz, animava os anjos e demônios que dançavam em verdadeira farândola de tolos e inocentes.
O homem, esse ser dito concreto mata tudo que ama e isso levou Santa Teresa, a concluir na gravidade de uma capela:´ seamos todos locos!”
O ar nesta noite tem o sabor de um samba de Ismael Silva ouvido depois de um dia de ferocidade urbana. Finalmente com as estrelas a se mostrarem na amplidão dos céus, brisas e reflexões. A vida ora é simples, ora contemplativa, ora metafísica, ora brutal! Ora divinal, ora dantesca.
No confronto do homem com a vida, ele corre o risco de transviar a sua pureza, e a vida de sofrer danos na sua elaboração maturada. Pela janela passa Débora com uma curtíssima mini-blusa de flagrante variedade de cores, e os seus óculos de intelectual parisiense.
Vem-me a lembrança Green White Envy Blues... Oh! Green...Oh! Yellow...Oh! Blue... Drumonnd, em seu poema Blusa, ou o blues de uma mini-blusa azul!
Ou mesmo o blues da mini-blusa azul de garota Raiblue que ouve um blues com a sua alma azul!
Pela mesma janela vejo passar bandos de aves noturnas voando em formação. Pequenos grupamentos de seres humanos, que trafegam augustiosamente na contramão da direção das suas emoções e a caminho dos bares, já repletos de homens e mulheres que, com os seus corações feridos, inebriados e encharcados. Buscam ocupar os espaços vazios.
Temporariamente arrendados! Into the blue!
Confirmando o dito de Sabino de que:” tudo o que embriaga é buscado com sofreguidão”.
São filhos da noite, das brumas, sátiros em marcha batida. Embarcam as suas emoções numa nau errante. Vão singrar mares de incertezas.
Sugam e exsudam o néctar, o buquê e os vapores etílicos da bebida impregnando os seus plasmas astrais de niasmas densos e voláteis plasticidades. Sob as bênçãos de Baco que, no seu oráculo no Olimpo deita e rola com o seu puto e etéreo corpanzil de luxúria, nos seixos miúdos dos regatos, que por lá fluem pela esquerda sempre em direção ao Tártaro!
Nos bares, os filhos da noite debruçam em ombros de anjos do Senhor, que vindo aqui, nesse mundo grande e tolo em missão de renúncia, amparam a cabeça dos boêmios, dos ébrios, dos artistas que sofrem de utopia, dos que padecem de incertezas, dos que foram traídos e dos que trairão a si mesmos. Alguns trairão até a contemplação que se olham refletidos no espelho do Narciso!
Esses santos anjos do Senhor amparam até os que nada sabem de incertezas ou de enganos!
Oh! Deuses de cada dia são tempos de tormento, de paixões condicionantes, de guerras subliminares, de amores não correspondidos, de luxúrias efêmeras. Tempos de trair a si mesmo e aos nossos semelhantes!
A cada manhã, um picadeiro cercado de círculos que se sobrepõem e abafam os atores, que improvisam a Comédia de “Um Dia e Uma Noite Sob Os Olhos da Eternidade”.
Na verdade, no seio da eternidade que impassível, assiste da mesma forma o sangue derramado por um justo ou o ato vil de um vil qualquer, que perdido nas suas incertezas o pratica sem outra opção mais do que a provação da dor.
Coloco o fone no ouvido, enquanto contemplo os olhos da overmina Raiblue na minha escrivaninha. Pela janela entra o firmamento, e extraio do CD um blues (Nigth Time Is) The Rigth Time.
Após o estupor produzido pelo metal desse blues e, para terminar, num doce balanço: Come Back!
Desligo o computador e mergulho impassível nos braços de Morfeu buscando encontrar os olhos mágicos de Raiblue na escura noite metafísica da minha alma plástica.
Nos mundos oníricos já dentro dos seus olhos para uma viagem sem volta atormentada por um blues azul.
Apanhado pela malha sedutora do azul... Contemplo o firmamento emoldurado pela janela e mergulho na imensidão dos olhos azuis...Em blues!
(Raphael Reys)

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